quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Havia um vestiário entre nós

Venho por meio desta agradecer as inúmeras manifestações de solidariedade pelo meu desespero em correr na esteira. Nunca pensei que pudesse ser tão compreendida. O desespero? Piorou. Porque agora eu corro lembrando que todo mês, pelos próximos 10 meses, meu cartão de crédito está comprometido com as 10 suaves prestações que resolvi fazer para ter uma esteira em casa.




Solidários ao meu desespero, alguns amigos, incluindo meus familiares mais chegados (reparem que apenas homens), sugeriram que eu deveria alternar a corrida com a natação. "A natação é um esporte completo, não tem impacto, trabalha todos os músculos do corpo e a gente sai da água se sentindo em outra dimensão".

Comprei maiô, touca e óculos e fingi que não vi a desgraceira no espelho. Devia ser proibido uma mulher ser obrigada a colocar maiô, touca de látex e óculos e ainda topar com um espelho pela frente.

Eu confesso que não sou lá muito chegada a piscina, tanque, banheira, jacuzzi, essas coisas de água meio parada. Sobretudo quando tem muita gente dentro. Mas se nadar seria o caminho para conhecer a outra dimensão, denegri minha própria imagem com maiô, touca e óculos, sublimei que havia mais de 10 pessoas batendo pé dentro d'água e me atirei na piscina. Foram 50 minutos - e confesso que saí de lá realmente me sentindo em outra dimensão. Só que entre eu e a piscina havia um vestiário.

Imediatamente lembrei do porquê eu havia deletado a natação da minha vida. Me diga se pode existir viagem para outra dimensão que dure mais tempo do que o caminho de volta ao vestiário. Me diga se pode existir desgraceira maior do que chegar ao vestiário molhada, em cima de um par de chinelos molhados, com o cabelo todo desgrenhado, com o rosto todo marcado do óculos e ainda ter que abrir a mochila, procurar os saquinhos plásticos para ensacar o maiô molhado, a touca e o óculos, pegar a nécessaire, levar o xampú, o sabonete e o condicionador para dentro do box do chuveiro, sempre pisando naquele chinelo nojento e molhado, tomar banho com alguns fios de cabelos que restaram do banho anterior, recolher sabonete, xampú e condicionador, secar um por um na toalha, se enrolar na mesma toalha, voltar pingando até o armário em cima daquele chinelo nojento e molhado, abrir a mochila, guardar a nécessaire, pegar o pente, cuidar para não cair cabelo no chão, passar hidratante na volta dos olhos, no rosto, no corpo, vestir a roupa que amassou dentro do armário, sentar no banco com o pé ainda molhado em cima daquele chinelo nojento, secar o pé, colocar o sapato, secar o chinelo, ensacar o chinelo e terminar a maratona suando, porque todos o bafo de todos os banhos quentes do vestiário se misturam ao barulho de todos os secadores quentes ligados no vestiário.

ME DIZ SE TEM ALGUMA SENSAÇÃO DE PLENITUDE NISSO?!

Mariana Kalil

Veja aqui o post na íntegra, com imagens sensacionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque um pouco de açúcar nesse limão.
Vamos adorar!